Um relatório recente do Climate Crisis Advisory Group (CCAG) reforça que o Brasil pode ter papel decisivo no combate à crise climática ao liderar cortes expressivos nas emissões de metano. De acordo com o documento, reduzir essas emissões é uma das formas mais rápidas, eficazes e econômicas de conter o aquecimento global.
O estudo indica que cortes de até 45% nas emissões de metano até 2030 poderiam evitar cerca de 0,3 °C de aquecimento adicional. O relatório também destaca que muitas das soluções já existem, mas precisam ser implementadas em larga escala com apoio de políticas públicas e incentivos adequados.
No Brasil, mais de 70% das emissões de metano são provenientes da agropecuária, sobretudo da fermentação entérica dos bovinos, conhecida como arroto do boi. Outros setores que contribuem de forma relevante são a energia, com vazamentos e queima de gás, e os aterros urbanos.
Apesar de compromissos internacionais, o país registrou aumento de 6% nas emissões entre 2020 e 2023, alcançando 21,1 milhões de toneladas de CH₄ segundo o Observatório do Clima. Esse é o segundo maior nível histórico já registrado, o que coloca ainda mais pressão sobre a necessidade de ações imediatas.
Recomendações do relatório
O CCAG propõe um conjunto de medidas para que o Brasil exerça plenamente seu papel estratégico:
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Proibir práticas como venting (liberação direta de metano) e flaring no setor de óleo e gás, além de intensificar o monitoramento de vazamentos.
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Estabelecer limites de intensidade de metano por propriedade rural, promover manejo adequado de esterco e incentivar a produção de biogás.
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Estimular a adoção de aditivos na alimentação de ruminantes que reduzem a produção de metano.
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Criar sistemas independentes de monitoramento e auditoria de emissões, com métricas confiáveis e transparentes.
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Melhorar a coleta e o tratamento de resíduos sólidos, priorizando a compostagem e a captura de metano em aterros.
O papel estratégico do Brasil
O relatório ressalta que, devido à dimensão da agropecuária e ao volume das emissões, o Brasil tem condições de provocar um impacto global relevante se implementar cortes expressivos no metano. Além de contribuir para a redução da temperatura, o país também ganharia tempo para avançar em ações de mitigação de gases de efeito estufa mais complexas.
Para especialistas, agir sobre o metano é vantajoso porque os resultados são percebidos em curto prazo. No entanto, a transição exige mudanças estruturais, investimentos em tecnologia e regulamentações consistentes. O futuro do clima global, em parte, dependerá da capacidade brasileira de transformar compromissos em ações concretas.